Celebrar a Festa das Lanternas


Na Pedagogia Waldorf dá-se muita importância aos movimentos da natureza, celebrando as estações do ano com todas as qualidades nutritivas que permitem enriquecer as nossas vidas.  Marcam o ritmo anual, numa “poderosa respiração da terra em relação ao cosmos" (Rudolf Steiner). Cada festividade lembra-nos as forças, os mistérios e a magia da conexão entre a vida na terra. Relembra-nos também o cosmos que nos vislumbra sobre o sentido da existência humana intricada a um sentimento de pertença.

No tempo do outono, as forças vitais da natureza recolhem-se, voltando-se para um sono de inverno, enquanto a vida interna da alma humana precisa despertar. Este momento revela-nos sobre a necessidade profunda de olharmos para dentro, honrar a nossa luz interior para que ela nos possa guiar através da escuridão, e ao mesmo tempo, honrar a luz do outro.

Em Setembro, o sopro de São Miguel trouxe a coragem para que possamos manifestá-la sem medo, derrotando os nossos “dragões” internos. Mas a nossa viagem continua adentrando a alma que desvela a força do sentir que habita o nosso coração. Emanados por este espírito, chegamos a Novembro, dia 11, para celebrarmos a Festa das Lanternas. A lanterna significa, simbolicamente, a nossa luz, que pode continuar a brilhar, mesmo quando os dias ficam mais pequenos, escuros e frios.





Esta festividade honra São Martinho, lembrando que devemos partilhar a nossa luz com os outros, num gesto de generosidade e compaixão. Diz a lenda que numa tarde chuvosa e fria, às portas de Amiens, Martinho seguia montado no seu cavalo, quando viu um homem muito pobre, vestido de roupas andrajosas e regelado pelo frio, que lhe estendia a mão, pedindo esmola. Infelizmente, Martinho não tinha nada para lhe dar. Então, num gesto de compaixão e de solidariedade, cortou ao meio o manto do seu uniforme militar e partilhou-o com o mendigo, para que este se pudesse cobrir e aquecer. Na noite seguinte, depois de um sonho, São Martinho ficou convicto que a sua missão seria dedicar-se ao serviço da humanidade. Foi um homem gentil e despretensioso, que trouxe luz e calor a todos aqueles cujas vidas tocou. A lanterna nesta festividade também nos remete para a imagem do S. Martinho. Quando a luz ilumina a escuridão, não podemos deixar de nos sentir protegidos e aconchegados.

A luz é a centelha divina que habita em cada um de nós e que nos une, para que juntos possamos levar a nossa luz e calor ao mundo. E como é brilhante e caloroso o caminho quando estamos juntos!

Para a criança, a vivência das festividades, é um caminho salutar. É alimento anímico fundamental para o seu desenvolvimento. É um sustento profundo, que comporta o ritmo natural da terra, num período de ritmos acelerados e muita distração em que vivemos hoje.

Honrando a sabedoria misteriosa que reside nestes momentos, num movimento que é maior do que nós e ao qual pertencemos oferecemos à criança um sentido de tempo e de espaço que lhe permite desenvolver um potencial profundo que a liga à vida, experimentando sentimentos de gratidão, reverência, de ligação ao outro e ao reino que habita. 

A celebração é vivida de uma forma simples e lúdica, sem que nunca se verbalize teoricamente o seu significado e a sua simbologia. Quando o sol se põe, cada criança carrega a sua lanterna iluminada, e em partilha e união com toda a comunidade, “caminha” em direcção à escuridão do Inverno irradiando a luz do seu coração, a luz do seu amor.