A grande amiga da nossa escola, Luisa Barreto, enviou-nos este poema especialmente para esta época. Aqui fica, para que todos o possam desfrutar.
EM
BUSCA DO REI SECRETO
(Tradução
e adaptação em verso de um conto de E. Karr, por luisa barreto)
in
The
Christmas Story Book, Ed.Floris
Book 1988)
conto
para o advento
(a
partir dos 8 anos )
Em
tempos nada distantes
Um
país ambicioso
Desejou
ser poderoso
E
conquistou os restantes
Tornou-se
rico e tão forte!
Diziam
os habitantes:
Talvez
sim, nós temos sorte…
E
achavam-se importantes
Mas
um dia aconteceu:
Uma
doença alastrou
Toda
a gente adoeceu
Tão
grave ela se tornou
Não
se podiam mexer
Depois
deixavam de falar
(De
que vale enriquecer?)
Já
nem sabiam pensar.
Que
se podia fazer
Para
a doença acabar?
O
Rei então reuniu
Conselheiros
e doutores
E
depois se decidiu
Entre
estes sábios senhores
Mandar
o Rei um pregão
P’lo
país a anunciar
«Quem
souber a solução
P’ró
mal que ataca a nação
Que
a venha ao rei contar»
Chegou
um velho pastor
Que
disse ao Rei inquieto:
-
“Manda a Princesa, senhor
Procurar
o Rei Secreto”
O
Rei primeiro nem queria
Deixar
a princesa ir
Mas
já ele adoecia
Teve
de se decidir
Lá
foi ela mundo fora
O
coração a cantar
A
princesa o povo adora
Seu
povo quer ajudar
“Rei
Secreto, onde se esconde?
Onde
o posso descobrir?
Tenho
de ir, não sei bem onde
Mas
não hei-de desistir”
No
primeiro dia andou
Até
a noite cair
Mas
o Rei não encontrou
Nem
sabia aonde ir
“Rei
Secreto, aonde moras?
Naquilo
que não se vê?
Diz-me,
ó Rei, porque demoras
Se
o meu coração crê?
Qual
é a tua morada?
Onde
moras afinal?
Será
que a noite calada/estrelada
Me
dará um sinal?”
Subiu
a uma colina
Dali
via o céu inteiro
Quem
tem alma peregrina
Tem
o céu por companheiro!
Como
o céu era sem fim?
Era
de um azul profundo
“Debruças-te
sobre mim…
E
assim abraças o mundo”
Sentia
que se alargava
Abraçava
o céu imenso!
Não
tinha medo de nada
“Sou
maior do que o que penso”
Assim,
se encheu de coragem
Envolvida
pelo céu
E
embalada pela aragem
A
princesa adormeceu
De
manhã, e já desperta
Repara
com grande espanto
Que
estava de azul coberta
Com
um lindo e grande manto
…Rei
Secreto
Te
dei um sinal
Manto
assim, decerto
Que
não há igual
Continua
a caminhada
Continua
a andar p’ra frente
Mesmo
se estava cansada
Ajudava
toda a gente
Gente
vinha ter com ela
Alguns
vinham com rancor
Quase
davam cabo dela
Ela
sempre dava amor
Pedia-lhe
uma mulher
Esfarrapada
e já doente:
-
“Oiça lá, você não quer
Dar-me
alguma roupa quente?”
E
logo ali se despiu
Princesa
filha de rei
Deu-lhe
a roupa e lhe sorriu
-
“Toma, não apanhe frio
Com
a capa ficarei”
Mas
então, ó maravilha!
Recebi
um novo p’lo dado
Debaixo
da capa brilha
Lindo
vestido encarnado
… Vestido
assim..
Continuara
o seu caminho
O
terceiro dia a andar
Avança
devagarinho
As
forças estão a faltar
O
caminho é já mais estreito
Há
mais poeira na estrada
Ela
avança já sem grito
Sente
uma pressão no peito
Mas
está determinada
Nunca
esquece o seu intento:
“Meu
andar é já tão lento
“Rei
Secreto, sei-o bem
Não
te acho se não tento
Andar
sempre mais além”
Vai
subindo p’la ladeira
No
topo vê um pomar
De
frondosas macieiras
De
maçãs a cintilar
Deixa-se
cair no chão
E
põe-se então a pensar:
“As
minhas forças não são
Fortes
como o coração
Que
me diz para avançar”
Assim
que pensou aquilo
Sente
uma aragem passar
E
num balançar tranquilo
De
folhagem pelo ar
Duma
árvore viu cair
Da
maior delas tombar
Dois
sapatinhos dourados
Mesmo
prontos p’ra calçar
Dois
sapatinhos dourados
Mesmo
prontos p’ra calçar
Quem
havia de dizer!
Quem
é que está a ajudar?
Quem
tais sapatos meter
Com
mais força há-de avançar!
Os
calçou a princesinha
Em
menos de dois instantes
Nova
força ao corpo vinha!
Que
força que agora tinha!
Nunca
tal sentira dantes
E
continua a jornada
Em
busca do Rei Secreto
Diz
para si, esperançada:
“Ele
está aqui por perto!”
E
como era a pique a estrada
Ao
quarto dia desceu
Por
uma senda inclinada
Tão
íngreme e afundada
Que
p’la terra se meteu
Não
se via mesmo nada
Deixava
de ver o céu
Só
de terra rodeada
Desce
por grutas escavadas
Numa
escuridão de breu
Pouco
a pouco clareou
Cada
vez mais e mais luz
-
“Aonde será que estou?
Onde
é que isto me conduz?”
Cada
vez ia mais fundo
Docemente
uma luz erra
Vinda
de um lugar profundo:
Era
o coração da Terra!
Lá
um grande espaço havia
E
num trono se sentava
Um
jovem Rei que sorria
Como
o sol o Rei brilhava
“… Ó
meu Rei Secreto
Por
fim te encontrei
Tudo
está quieto
Suspenso
e tão perto
De
nada mais sei…
Ó
meu Rei escondido
Deixa-me
aqui estar
O
tempo é comprido
Posso
descansar…
E
pela gruta espalhados
Vieram
ver a Princesa
Gnomos
encarquilhados
Duendes
esverdeados
E
ondinas de tal beleza!
Também
se entreviam fadas
Breves,
lindas e douradas
As
fadas estavam ali
“Ó
meu Rei Escondido
Deixa-me
aqui estar
O
tempo é comprido
Posso
descansar…”
Os
guias da Humanidade
Lá
esperavam tempo que há-de
Do
futuro retornar
E
a mais alta hierarquia
Dos
Anjos, em harmonia
Eram
música no ar
“Ó
meu Rei Escondido
Por
fim te encontrei
Tudo
está quieto
Suspenso
e tão perto
De
nada mais sei…”
O
Rei olhava a donzela
Com
um longo, longo olhar
Percebera
bem que ela
Merecera
ali entrar
Pelo
azul que a coloria
E
o vermelho que usava
E
os sapatos que trazia
Aonde
o Sol rebrilhava!
Deu-lhe
uma taça dourada
Cheia
d’água transparente
-
Prova esta água sagrada
E
leva-a bem guardada
Para
o teu povo doente
Fala
ao teu povo de mim
Dá-lhe
esta água a beber
E
se curará, enfim
Aquele
que quiser crer.
E
a princesa provou
Da
água que Rei lhe dera
Sorriu
ao Rei, o saudou
Tomou
a taça e voltou
P’ro
mundo de onde viera
Muitos
não quiseram crer
Que
houvesse um Rei Secreto
“Como
podia isso ser?!
Era
uma ilusão, decerto…”
Mas
depois houve, porém
A
quem a água fez bem
E
que fizeram curados
Foram
os que acreditaram
Na
água se saciaram
Sentiram-se
abençoados
Muitos
mais inda virão
Abrindo
o seu coração
Áquilo
que é bem verdade:
É
que existe um Rei Secreto
Que
nos dá a liberdade
É
que existe um Rei Secreto
Que
guarda a vida p’ra quem
O
sente entre nós, bem perto
E
por isso a ti vem
Sei
que existe um Rei Secreto
Não
é nenhuma quimera
Habita
entre nós, bem perto
Habita
entre vós, e espera.
FIM